sexta-feira, 22 de agosto de 2008

E se "O iluminado" fosse uma comédia?

Diz a lenda que uma produtora norte-americana estava selecionando editores de video e uma das etapas decisivas era pegar um filme clássico de uma lista estabelecida e criar um trailer mudando totalmente o gênero dele.
O vencedor pegou nada menos que "O Iluminado", uma das obras primas do Stanley Kubrick que já deve ter rendido horas de terapias para muita gente impressionável. Terrorzão psicológico de primeira com o alucinado Jack Nicholson inspirado.
O cara pegou imagens do filme e transformou, pasme, em uma compedia romântica.
O mais difícil deve ter sido cortar as cenas do Jack no limite entre o sorriso e a insanidade. A trilha sonora e a locução são impecáveis. Belíssimo trabalho. Até eu contratava o cara. O dia que eu tiver uma produtora, quem sabe.
A moda pegou e já existe várias edições como essa de mudar o gênero de um filme no youtube, mas nenhuma que eu vi supera essa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

David Cronenberg e os Senhores do Crime




Inspirado pelo filmaço que acabei de assistir, "Senhores do Crime", do genial diretor canadense David Cronenberg, resolvi fazer uma lista pretensiosa com seus 8 melhores filmes. Por que 8? Por que uma lista com 8 filmes soa como um filme do próprio Cronenberg. À primeira vista não parece fazer sentido. Depois você já não se importa com isso. Daí passa a fazer todo o sentido. Eu não vi nem 1/4 da filmografia dele mas o considero um gênio e um dos diretores-autores fodões do cinema.

Em ordem decrescente.

8 - Videodrome

7 - Scanners

6 - Gêmeos, mórbida semelhança

5 - Crash - Estranhos Prazeres

4 - Spider

3 - A Mosca

2 - Marcas da Violência

1 - Senhores do Crime


É possível que a lista mude na minha segunda lida. Mas dificilmente o primeiro lugar vai sair tão cedo. Eita filme bom. Parece uma sequência temática de seu filme anterior, Marcas da Violência, também com o Viggo Mortensen. Ambos falam, claro, da violência e questiona a origem dela e sua justificativa, se é que é ela tem e se ela pode ser boa também.
"Senhores da Violência" foi encomendado pela BBC para mostrar o submundo de Londres que envolve prostituição, contrabando, tráfico de drogas, imigrantes criminosos entre outros queimadores de filme para a imagem britânica. O roteiro é redondíssimo e a direção é extremamente elegante. Esse ano só vi elegância igual em "O Gângster", do Ridley Scott. Aqui Cronenberg faz um trabalho brilhante em cima do roteiro quando orquestra cada detalhe do filme transformando todas as fórmulas conhecidas do cinema em algo tão digerível e discreto que nem percebemos coisas óbvias. As reviravoltas do roteiro, a construção, intenção e evolução dos personagens, a trilha sonora (ou ausência dela) e o grafismo da violência se dão de forma tão crua e sutil que atinge a "diegese perfeita" (termo que acabei de inventar) e tudo flui perfeitamente.
E como de costume, o diretor nos brinda com mais cenas que aparentemente ninguém dá nada mas ficam na história do cinema e na memória dos cinéfilos. A abertura climática e violenta e a já clássica cena da briga na sauna. Mas cenas fortes qualquer diretor gore consegue fazer. Cronenberg é especial por usar o vazio como forma narrativa. O que não é mostrado ou falado, além de servir de clima, não subestima a inteligência do espectador. Coisa rara hoje em dia, onde um filme quanto mais mastigado, menos faz pensar durante a projeção e principalmente depois. E Cronenberg não dá a mínima pro nosso conforto mental. Ainda bem.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

E Bernie Mac também se foi.



Faleceu esses dias também o comediante Bernie Mac, grande coadjuvante em grandes filmes e muitos nem tanto. Pra mim vai ficar na minha lembrança com um papel bacana no maior filme natalino de todos os tempos, BAD SANTA (com uma das traduções mais constrangedoras para português que já vi, "Papai Noel ás avessas"). Comédia de humor negro, nonsense, anarquia e ao contrário de 99,99% das comédias americanas o anti-herói não encontra a redenção pelo caminho da pieguice fácil.

Infelizmente não achei o video pra postar com a minha cena favorita do filme. Um diálogo aparentemente comum entre Bernie Mac e outro falecido, o grande John Ritter (esse blog parece um obituário, eu sei). Ritter improvisa umas reações faciais quando fala das perversões sexuais do Papai Noel alcólatra e Bernie Mac heroicamente se contorce pra não rir.

Um dos raros filmes que assisto mais de uma vez e nunca rio menos que a última. Graças ao simples e brilhante roteiro, atuações inspiradas de Billy Bob Thorton, Bernie Mac e John Ritter.

Aqui vai uma cena que resume o espírito natalino do filme.



Esse filme sim poderia virar uma franquia natalina. E quando Tim Allen morrer não vou escrever à respeito.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

British Army

Cena do filme "O sentido da vida", do Monty Python.
Deveria ser usada em exame psicotécnico.
Não confio em quem não acha a cena engraçada e a pessoa que não rir quando o general berra "LEARNING THE PIANO!!!" merece a camisa de força.
Simples assim.
Saudade, mas muita saudade dessa trupe.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Adeus, Chef


Morreu Issac Hayes, vulgo Chef e autor da trilha sonora de Shaft (aquela mesmo que todo mundo queria andar na rua todo pimpão, peito estufado e tocando ela de fundo).

Na verdade ele já tinha morrido pra mim quando largou um dos melhores empregos do mundo como dublador de South Park por um motivo imbecil. Foi logo após o famoso episódio da cientologia, quando ele, praticante dessa, ficou indignado com a zombaria sobre a sua religião e pediu a conta. Na verdade o episódio pega leve com a seita e desce a lenha nos seus praticantes, já que a própria origem dela já é uma piada em si. Tá bom, zoar com o papa, com os mórmons, católicos, judeus, etc, tudo bem. Mas com a seríssima cientologia, óóóóóóóó.

Enfim, quero lembrar dele como um baita músico e não como um hipócrita e ignorante.
Então aqui vai um video de sua grande obra prima vencedora do Oscar de canção original.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ratatouille - O maior de todos


"De várias maneiras o trabalho de um crítico é fácil. Nós nos arriscamos muito pouco e ainda desfrutamos de uma posição confortável sobre aqueles que submetem seu trabalho e a si próprios ao nosso julgamento. Nós nos refestelamos escrevendo crítica negativa, que é divertida de escrever e de ler. Mas a verdade amarga que nós, críticos, temos que encarar é o fato de que, no grande esquema das coisas, até o lixo medíocre tem mais significado do que a nossa crítica em si. Mas há momentos em que um crítico verdadeiramente arrisca algo, e isso ocorre na descoberta e na defesa do novo. O mundo é geralmente inóspito para o novo talento, novas criações. O novo precisa de amigos. Noite passada, eu experimentei algo novo, uma refeição extraordinária preparada por uma fonte singularmente inesperada. Dizer que tanto a refeição quanto quem a preparou desafiaram meus preconceitos é uma grosseira simplificação. Ambos me abalaram em meu âmago. No passado, não fiz segredo do meu desdenho pelo famoso lema do Chefe Gusteau: Qualquer um pode cozinhar. Mas só agora verdadeiramente percebo o que ele queria dizer. Nem todo mundo pode se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar. É difícil imaginar alguém com origem mais humilde do que o gênio agora cozinhando no restaurante Gusteau’s e quem, na opinião deste crítico, não é nada menos do que o maior chef da França. Estarei voltando ao Gusteau’s em breve, faminto por mais”.

Viu, Chaplin?
O cinema sonoro tem salvação.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dark Knight - Número 1 do IMDB???


Absurdo. O Poderoso Chefão já não é mais o filme melhor pontuado entre os usuários do IMDB, maior banco de dados de cinema no mundo. Exagero. Se O Poderoso Chefão não é o melhor filme da história, Batman - O Cavaleiro das Trevas é muito, mas muito menos. Apesar dos recordes de bilheteria sendo batidos (se bater o do Titanic eu nunca mais escrevo sobre cinema) é lógico que é um filme longe de ser um clássico. Pra isso o filme tem que ser maior que uma polêmica e muito resistente ao tempo. Só o tempo dirá.

Pra quem quer argumentos pra falar bem do filme, ele é sim, acima da média para um filme que fala de um maluco vestido de morcego perseguindo outro de palhaço (imagino David Lynch considerando uma premissa dessa para um filme). Bem fotografado, direção segura, produção voltada ao realismo e um Heath Ledger sem rédeas que rouba todas as cenas em que aparece (nem entro no circo armado em torno da morte dele pois o filme merece um pouco mais do que essa visão sensacionalista). Apesar de longo o roteiro é bem amarrado (não necessariamente verossímil) e o final só não é mais pesado pois fica a sensação de que haverão outros por vir e assim consertar o destino trágico do homem morcego mas necessário para a sua própria definição de herói (O Império Contra-Ataca me vêm à mente). A grande sacada dessa retomada da franquia foi relacionar o herói com os vilões como um decorrente do outro. Gothan ganha um justiceiro psicótico e a contrapartida é o surgimento de vilões piores. Nesse caso o Coringa fascina pelos métodos insanos, motivações anarquistas e por isso seus passos sempre indecifráveis ficam a frente da polícia. É uma força do mal que chega pra desestabilizar o sistema, como o personagem de Javier Bardem em "Onde Os Fracos Não Tem Vez. Ambos provocam o caos e servem bem para a humanidade como exemplos de que nunca podemos subestimar a maldade e que nem toda desgraça pode ser explicada pela obra de Deus ou pela porta dos fundos da civilização. Afinal o que seria do terrorismo sem a sua imprevisiblidade e uma "Amoral" perturbadora? E como o cinema, assim como qualquer obra de arte, por mais que retrate um mundo ficcional sempre vai ser um reflexo da sociedade a qual o autor está inserido. Pelo menos ganhamos assim filmes de ação bem intessantes nos dias de hoje. Taí: marketing saboroso, produto que corresponde às espectativas, subtexto para "pensar" e satisfação garantida do consumidor.

Agora minha parte favorita... Pra quem gosta de ser do contra e falar mal das unanimidades burras. O que mais limitou o potencial do filme foi a escolha covarde e babaca da Warner em querer que o filme pegasse o PG-13, censura para 13 anos de idade. Fica constrangedor um filme de tamanha violência psicológica não ter uma gota de sangue. Não sou hemofágico, mas ficou ridículo e perdeu a tal da credibilidade artística. Alguns diriam: "Ah, mas e o poder da sugestão? Veja o Tubarão, do Spielberg". Sim, Tubarão sugere bastante e cria uma tensão perturbadora mas na hora do pau ele é catarticamente bem explícito No Batman, as cenas com o Coringa são insanas, perturbadoras e tensas, mas na hora do pega parece "Sessão da Tarde". O estrago já foi feito na cabeça da rapaziada. Aliás tem muito adulto mal informado levando a piazada pro cinema achando que o filme parace com os Batmans do Joel Schumacher. Dá-lhe psicólogo depois. Voltando ao lado negativo do filme... Que diabos é a voz do Christian Bale quando está mascarado? Constrangedora demais. Pior que no primeiro filme. A trilha sonora toda hora chama a atenção de modo negativo e no final não se lembra nem uma nota. Outro aspecto que poderia ter sido melhorado é a direção e a montagem nas cenas de ação, principalmente quando Batman sai na mão contra a bandidagem e a edição fica muito frenética. Não dá pra entender bulhufas do que ta acontecendo. Essa é a tendência do cinema de ação desde a trilogia "Bourne" (Supremacia Bourne, mais especificamente) onde o uso da câmera na mão e montagem frenética dá a sensação visual de documentário e aproxima mais o espectador da ação. Ok, tem algumas cenas fantásticas com esse recurso (como o pulo da janela em "Ultimato Bourne") mas geralmente a montagem frenética incomoda a vista e quanto mais frequente elas são feitas mais descartáveis ficam e assim vão perecer como o efeito bullet time do "Matrix". Em nenhum desses novos "Batman" tem uma cena sequer memorável no ponto de vista técnico. O diretor Christopher Nolan não tem nem a competência para isso e nem a intenção. Foi burocrático e correto o suficiente para o espectador lembrar e curtir o roteiro. Infelizmente é uma tendência não só em Hollywood, mas no mundo todo, diretores não se preocupam mais com o apuro visual, a elaboração de enquadramentos mais complexos, informações visuais sutis, simbologia visual e sonora, movimentos de câmera que tenham significado. Grandes mestres como Brian de Palma, Coppola, Scorsese, Spielberg, Ridley Scott vão assistindo o predomínio nas bilheterias de uma uma geração de diretores sem personalidade, com raras excessões. Christopher Nolan não é uma delas e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" não é uma obra-prima. Ainda.